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Caminhada no Parque Nacional do Caparaó – MG/ES

O Parque Nacional do Caparaó é um dos lugares de rara beleza mais interessantes do nosso país. Está localizado na divisa dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, na Serra da Mantiqueira, possuindo 31 mil hectares. Foi criado em maio de 1.961 e abriga o terceiro pico mais alto do Brasil, o Pico da Bandeira, com 2.897 metros de altitude – superado apenas pelo Pico da Neblina (3.014 metros de altitude) e o Pico 31 de Março (2.992 metros de altitude) – ambos situados no Parque Nacional do Pico da Neblina.

Conta-se que por volta de 1.859, D. Pedro II determinou que fosse colocada uma bandeira do Império no ponto mais alto da Serra do Caparaó. Provavelmente o nome do pico deve-se a isto. É bom lembrar que, até a época da criação do Parque, o Pico da Bandeira era considerado o ponto culminante do território brasileiro. O Parque possui ainda outros dois picos bastante altos. O Pico do Cristal (2.798 metros de altitude) e o do Calçado (2.766 metros de altitude).

Também protege várias espécies ameaçadas de extinção, como lobo-guará, veado campeiro, cuícas, cachorros-do-mato, tucanos-de-bico-preto, andorinhas-de-coleira, canários-da-terra e o muriqui ou mono-carvoeiro, como é conhecido. Esta espécie é endêmica da Mata Atlântica (vive exclusivamente neste habitat). Antigamente era encontrado do norte do Paraná ao sul da Bahia, hoje, porém não é facilmente observado.

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A vegetação do Parque é bastante diversificada. Suas encostas são encobertas por Mata Atlântica e campos rupestres nas partes mais altas. Em alguns trechos há a predominância dos campos de altitude. Nas partes mais baixas sobressaem as imbaúbas, as quaresmeiras, os jequitibás, os cedros, os ipês, as taquaras e as samambaias. Nos campos de altitude sobrevivem as gramíneas, bromélias, orquídeas, musgos, líquenes, sempre-vivas e canelas-de-ema, ou seja, espécies adaptadas às condições de frio intenso e resistentes às geadas.

Além disso, o local possui várias nascentes formando riachos, corredeiras, lagos e piscinas naturais com águas puras e cristalinas. É um dos destinos preferidos por grupos de turismo de aventura, sobretudo pelas possibilidades de escalada, rappel, canyoning e outras atividades ligadas ao montanhismo.

Esta foi a minha quarta incursão pelo Caparaó. Desta vez embarquei num ônibus leito da Trilhas&Trilhas – operadora de ecoturismo – com outros 24 passageiros e juntos fomos contemplar todo o cenário do Parque no último feriado de Corpus Christi. Na saída percebi que o as pessoas aguardavam ansiosas para conhecer um dos lugares onde o frio é mais intenso no Brasil, embora o ânimo tomasse conta de todo o grupo. Dei conta de que muitos companheiros de viagem já se conheciam de outros passeios e que certamente seria uma viagem muito agradável.

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No dia seguinte, após 14 horas de viagem finalmente chegamos em Alto Caparaó (MG) – principal acesso ao Parque. Esta pequena cidade mineira tem uma população bastante hospitaleira. Crianças e idosos ficavam nos observando das portas e janelas das suas casas e saudavam a nossa chegada. Alto Caparaó é um município relativamente novo, emancipado há apenas 06 anos. Habita cerca de cinco mil habitantes e tem sua economia baseada na monocultura do café.

Desembarcamos e fomos direto à Pousada do Rui onde ficamos hospedados durante os quatro dias. O Rui, com seu sorriso singelo e brincalhão, foi logo nos recepcionando com uma “branquinha”, a cachaça Pico da Bandeira, fabricada artesanalmente nos alambiques da própria região. Dizia ele: “Quem não beber dessa, não irá conseguir chegar ao topo do Pico”. Brincadeira à parte, é uma cachaça saborosa, mas que não deve ser ingerida em excesso.

A esposa do Rui nos recepcionou com seu delicioso almoço à moda mineira – com muita fartura. Os pratos quentes aguçavam ainda mais o nosso paladar. Famintos, devoramos tudo em apenas meia hora. Para minha surpresa, após o almoço foi servida a deliciosa sobremesa: doce de leite caseiro. Comi sozinho, sem parar, todo o conteúdo de uma tigela. Acreditem! O exagero quase me levou ao hospital.

Após a digestão, que demorou a acontecer devido a comilança, fomos visitar o Vale Verde, a pé. Localizado a 600 metros após a portaria do Parque, o Vale Verde é formado pelo Rio Caparaó, situado numa das áreas mais baixas do Parque, com cerca de 1.200 metros de altitude. Suas cachoeiras formam diversas piscinas naturais, ideais para um banho gelado. O local conta com vestiários, sanitários e até churrasqueiras. Neste dia a água estava tão fria que ninguém ousou dar um mergulho. Ao final da tarde retornamos à pousada e à noite tomamos uma deliciosa sopa verde.

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No dia seguinte, todos acordaram dispostos e estavam na expectativa para começar as longas caminhadas no Parque. Logo após o reforçado café da manhã seguimos em jipes até o acesso para a Cachoeira Bonita. A apenas 350 metros de distância da Tronqueira encontramos a Cachoeira Bonita, com 80 metros de queda livre. O nome é merecido, já que este é, sem dúvida, um dos pontos de maior beleza do Parque. O acesso é feito por trilha rústica, com um mirante no meio do caminho, que proporciona ampla visão da cachoeira, localizada no Rio José Pedro, divisa natural dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. A partir deste local nossas mochilas foram transportadas em lombos de mulas até o Terreirão, onde iríamos acampar.

Na volta da cachoeira fomos direto à Tronqueira. Um platô localizado a 1.970 metros de altitude. O local é o último ponto que se permite acesso por carro, distante 6 quilômetros da portaria do Alto Caparaó. Possui uma área para camping com quiosques, mesas, sanitários, chuveiros, lava-pratos e uma vista panorâmica de todo o vale do Rio Caparaó. Neste local fizermos uma parada, mas o céu encoberto não permitiu que tivéssemos uma visão mais privilegiada.

Seguimos em frente e fizemos mais uma parada. Desta vez no Vale Encantado que também possui vários poços para banho. Continuando a caminhada e após 4,5 quilômetros chegamos ao Terreirão – local estratégico para os montanhistas. O Terreirão está localizado a 2.370 metros de altitude e é uma pequena planície bem no meio de várias montanhas, sendo um ótimo lugar para descanso dos grupos. É no Terreirão que se encontra a famosa Casa de Pedra, abrigo rudimentar de pedras construído pelos zeladores do parque há muitos anos. Moradores da região, porém têm outra versão. Eles dizem que o Terreirão serviu de esconderijo para os guerrilheiros opositores do regime militar brasileiro, na década de 60, tendo sido eles os verdadeiros construtores da casa.

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Foi no Terreirão que montamos nosso acampamento. Parte do grupo alojou-se na Casa de Pedra e os demais pernoitaram em barracas. O frio intenso da noite, por volta de 4 oC, dificultou o sono, entretanto o que fez com que todos despertassem antes do horário previsto foi a atitude anti-comunitária adotada por um indivíduo que estava acampado no mesmo local. O sujeito tomou fôlego e anunciou gritando: “O Homem Pássaro”. Isso ocorreu por volta de 1h30 da madrugada e ninguém mais dormiu.

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Irritados com a situação, levantamos acampamento e por volta das 3 horas da madrugada seguimos em direção ao cume do Pico da Bandeira. Em comboio, caminhamos num ritmo moderado para não ficarmos estacionados lá em cima antes do sol nascer, já que os fortes ventos “cortavam” o rosto a uma temperatura de aproximadamente 3oC. Por volta de 6h15 percebemos a recompensa do esforço. O Astro-Rei anunciava seus primeiros raios e começava a surgir por cima das nuvens que cobria aquele horizonte sem fim. Claro que não deixei de fotografar este momento único e singular da natureza.

Permanecemos no Pico por mais uma hora e logo iniciamos a descida para subir, na seqüência, os Picos do Cristal e do Calçado. Parte do grupo, nove mulheres, desistiu de realizar esta caminhada e retornou direto ao Terreirão. Após a subida do Cristal, que oferece certo grau de dificuldade, seguimos uma trilha que nos levou à famosa Casa Queimada, rumo à portaria Pedra Menina, no lado capixaba. Esta caminhada durou 14 horas. Famintos, fomos direto ao restaurante da Pousada Paineiras em Dores do Rio Preto (ES). Dona Neuza, a proprietária, nos esperava com sua mesa farta, abastecida com comida caseira feita em fogão à lenha.

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No domingo, ainda cansados, fomo visitar as Cachoeiras das Andorinhas, uma propriedade particular no entorno do Parque. No local há várias piscinas naturais com suas águas transparentes e ideais para um delicioso mergulho. Ao final da tarde retornamos a São Paulo. Quando desembarcava em “Sampa”, uma pessoa do grupo dizia ter emagrecido cerca de três quilos. Com tanta comilança, será possível?

Onde ficar

Pousada do Rui
Rua Francisco Monteiro, 86 – Centro – Alto Caparaó/MG.

Pousada do Bezerra
Rua Vale Verde, S/No – Alto Caparaó/MG

Pousada Paineiras
Dores do Rio Preto/ES

Como chegar

Pelo Espírito Santo: Br-101 até Safra. No trevo de Safra, seguir em direção a Cachoeiro (BR-482), depois Alegre, Guaçuí e Dores do Rio Preto.

Por Minas Gerais: BR-116 até Fervedouro, em seguida BR-482 até Carangola. Depois MG-111 até Alto Jequitibá e mais 11 km até Alto Caparaó.

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Dicas do autor

Subir o Pico da Bandeira parece ser uma tarefa dificílima, mas andando devagar e parando para descansar a cada 30 minutos, a caminhada torna-se extremamente agradável, principalmente devido ao belo visual que distrai quem caminha. Durante a noite o percurso pode ser feito entre 3 e 4 horas. Aconselha-se portar lanternas com bom feixe de luz, levando pilhas reservas. O frio descarrega as pilhas mais rapidamente que o normal. É importante seguir a trilha, à noite, apenas acompanhado de um guia.

Também é importante levar uma mochila com alimentos leves e agasalhos confortáveis. Os alimentos pesados devem ser deixados de lado. Sopas e alimentos desidratados, pão de forma integral, queijo branco, mate ou bebidas instantâneas, chá em saquinhos, passas ou frutas secas, chocolates, castanhas, biscoitos e rapaduras são leves e dão energia. As roupas devem ser embaladas em sacos plásticos já que pode chover a qualquer momento. Conhecer as técnicas básicas de primeiros socorros e orientação na natureza também ajuda, assim como nunca estar sozinho. É bom lembrar que barulho excessivo espanta animais e pode prejudicar outros grupos que busquem silêncio e paz. O lixo produzido deve ser recolhido em seguida. A água para beber deve ser poupada para não faltar durante a caminhada. Apesar da baixa temperatura, fogueiras não são recomendadas. Os ecoturistas também devem evitar fumar durante a trilha.

Quem já se aventurou em trilhas sabe que alguns “utensílios” básicos não podem faltar. Em alguns casos, se isso acontecer, a viagem corre o risco de nem começar. Alguns itens são indispensáveis, como: mochila de tamanho suficiente para levar os pertences, saco de dormir, manteiga de cacau para os lábios, agasalhos, toucas, luvas, meiões, objetos de uso pessoal, lanterna de mão, cantil, fogareiro, panela pequena e talheres, óculos escuros, filtro solar, chapéu ou boné, tênis ou botas de caminhadas já laceados, estojo de primeiros socorros, cordas de nylon, fósforo, máquina fotográfica, filmes, mapas, bússolas ou GPS e sacos para lixo.

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Quem Leva

Trilhas&Trilhas
Ecoturismo – Aventura – Educação Ambiental
Rua Edgard Salles, 560 – São Paulo – SP – CEP: 02633-020
Fone: (11) 6233-7572
E-mail: [email protected]

Autor: Jurandir Lima
E-mail: [email protected]
Site: http://www.trilhasetrilhas.com.br

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Escrito por Mauricio Oliveira

Maurício Oliveira é social media expert, consultor e influenciador de turismo e empreendedor. CEO do portal Trilhas e Aventuras, também conta suas experiências de viagens pessoais no blog Viagens Possíveis. Especialista em Expedições na Rota das Emoções e Lençóis Maranhenses. Ama o que faz no seu trabalho e nas horas vagas também gosta de viajar. Siga no Instagram, curta no Facebook, assista no Youtube.

Um comentário

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  1. Muito boa a sua descrição de como é o Parque Nacional do Caparaó. Apesar de pouco divulgado, este parque que abriga o Pico da Bandeira, é um lugar muito lindo, com belas paisagens e pessoas hospitaleiras. Além do surpreendente frio que ali faz. Se gostam de caminhadas não deixem de conhecer esta região do Brasil.

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