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Cachoeiras de Macacu, o paraíso ecológico fluminense

É muito comum ouvirmos os turistas comentando sobre os pontos de belezas naturais no Rio de Janeiro citando cidades como Búzios, Itatiaia, Teresópolis ou a própria capital com o Pão de Açúcar e a Floresta da Tijuca, mas pouco ouve-se falar de um lugar que certamente possui a maior quantidade de opções para a prática de esportes de aventura dentro do estado. Estou falando de Cachoeiras de Macacu.

Situada a apenas 96 quilômetros da capital, Rio de Janeiro, Cachoeiras de Macacu possui a maior reserva de Mata Atlântica primitiva dentro do estado, segundo relatório da UNESCO de 1.994 e está situada entre as Serra dos Órgãos, do Mar, Santana e São João. Nessa região serrana, as altitudes variam entre 50 a 2.100 metros com uma topografia bastante diversificada. É como se fosse uma Meca, de natureza ideal, para longas caminhadas, mountain biking, off-road, cavalgadas e, sobretudo, escaladas e rapel. Em alguns meses do ano, quando alguns dos seus rios tem um volume d`água um pouco maior, dá para se praticar ainda a canoagem e o rafting. Possui um clima quente/úmido e variações de temperatura entre 15 a 30 graus Celsius.

No último dia 05 de junho – dia mundial do meio-ambiente – foi criado o Parque Estadual dos Três Picos, com 46.780 hectares, abrangendo os municípios de Cachoeiras de Macacu, Nova Friburgo, Teresópolis, Guapimirim e Silva Jardim. A criação do Parque teve como principal objetivo formar um corredor ecológico para garantir a biodiversidade regional, interligando áreas protegidas do sul com o norte do estado. Outra função do Parque será minimizar os impactos ambientais gerados pela especulação imobiliária, agro-pastoril, desmatamentos, queimadas e caça predatória, além de proteger a maior Bacia Hidrográfica ao Leste da Baia da Guanabara. O Rio Macacu, que nasce quase na vertente dessa Serra, corta todo o município com seus principais afluentes.

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O grande orgulho dos macacuenses é possuir a imponente Pedra do Colégio que está situada a seis quilômetros do centro. É um imenso bloco rochoso, maciço, com altura de aproximadamente 300 metros. Não sendo exatamente um monolito trabalhado pela erosão, a Pedra do Colégio apresenta um aspecto curioso. Suas paredes recebem insolação favorecendo a térmica na elevação da asa delta. Em razão disso, foi a sede do primeiro campeonato brasileiro de vôo livre e, até hoje, ninguém ousou escalá-la. A Pedra do Colégio é considerada o principal cartão postal da cidade.

Apesar dos seus 323 anos de existência Cachoeiras de Macacu ainda preserva características bucólicas, como é o caso de Regina Amanda da Conceição que aos 84 anos de idade mora num sítio localizado na base da Pedra do Colégio e não possui energia elétrica. Dona Regina teve oito dos seus dezesseis filhos em casa e sem usar óculos, consegue ler utilizando-se da luz de uma lamparina. Totalmente lúcida, ela comenta que teve pouca oportunidade de freqüentar escola, mas a vontade de entender os escritos da bíblia fez com que se tornasse uma verdadeira leitora assídua. Contente com a vida que leva, Dona Regina convidou-nos para tomar um cafezinho e ao lado do seu fogão à lenha relatou parte da sua experiência naquele lugar. Entre uma história e outra frisou que todos os dias caminha nove quilômetros para levar o bisneto à escola. Realmente o dia-a-dia desta senhora é de fazer inveja a muita gente que se considera saudável.

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Para conhecer um pouco deste paraíso, partimos de São Paulo, nas vésperas da grande final da copa do mundo. Um final de semana ensolarado no mês de junho, ideal para ter o contato com as águas geladas dos rios que cortam o município. Em Cachoeiras, o nosso guia principal, Cleiton Caliocane, um macacuense nato, relatou que na região existem 78 quedas d`água, a maioria desconhecida dos próprios moradores locais.

Primeiro dia

Pela manhã fomos ao bairro Boa Vista contemplar o belo nascer do sol surgindo entre as montanhas. A beleza do local justifica o nome, com uma visão privilegiada de toda a cidade. Logo em seguida, enquanto milhões de brasileiros estavam plugados na TV do plim-plim assistindo aos passes do Cafu e Rivaldo – na final Brasil e Alemanha – fui fotografar o escalador Amarildo Chermont realizando um boulder com movimentos de 4o a 6o graus de dificuldade, muito abrasivo e alto risco de exposição a traumas, em caso de quedas. O boulder é a prática de movimentos básicos de escalada, em blocos de rochas medindo de 2 a 7 metros de altura. Serve para treinar o aperfeiçoamento da tríade força, equilíbrio e concentração, sem utilizar os equipamentos da escalada. É necessário apenas uma sapatilha e um saquinho contendo magnésio em pó. Para evitar ferimentos em casos de quedas, é aconselhável montar um crasch pad (colchão de proteção).

A tarde, mesmo após a conquista do título de pentacampeão no futebol não paramos para comemorar. Juntamo-nos a um grupo de aventureiros local e fomos fazer um rapel nas Cachoeiras do Tenebroso e da Terceira Dimensão. Para chegar até elas pegamos uma trilha demarcada e caminhamos cerca de uma hora.

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A Cachoeira da Terceira Dimensão é uma das mais belas quedas d’água do município, possuindo um salto, com todo o volume de água do Rio Boa Vista, com aproximadamente 25 metros, seguida de uma ampla piscina natural. Logo abaixo está a Cachoeira do Tenebroso, com seus 15 metros. Esta última é circundada por grandes formações rochosas que atingem a mesma altura da queda d’água. Suas águas são cristalinas com temperatura variando entre 17ºC a 22ºC. As rochas que circundam o poço apresentam-se recobertas de vegetação, onde se destacam orquídeas e bromélias.

Segundo dia

Atendendo ao convite do seu João Vanelli Caliocane, cavaleiro de 60 anos, fomos participar de uma cavalgada às margens do Rio Boa Vista. Ao longo do seu curso até o encontro com o Rio Macacu formam-se diversas quedas d’água de rara beleza. É uma trilha pouco explorada e que ainda preserva seus encantos naturais. Seu Caliocane organiza grupos para cavalgadas pelas trilhas ecológicas da região que duram, em média, quatro horas. Caso o ecoturista tenha vontade e disposição poderá participar de trilhas que necessitam até três dias para ser percorrida. Para estas cavalgadas João Vanelli recomenda o uso de botas de couro, calças compridas (de preferência jeans), sem esquecer do chapéu com abas para se proteger da insolação.

Depois fomos conhecer uma obra ousada da engenharia local, datando do início do século passado. O aqueduto Santa Fé construído em plena mata fechada serviu como meio de transporte de água para mover o engenho de uma fazenda local. Hoje, porém a fazenda está desativada e o aqueduto virou ruínas.

Para chegar a este local percorre-se sete quilômetros de carro em direção à Pedra do Faraó e em seguida, caminha-se dez minutos. O interessante foi ao chegar no aqueduto e ser recepcionado por uma cobra verde, não venenosa, tomando seu banho de sol. Ela ficou tão surpresa com a nossa presença que até pousou para uma foto.

Seguindo em frente caminhamos mais uma hora, cerca de seis quilômetros, para conhecer a Cachoeira do Tapete. Ela tem apenas 9 metros de altura, mas de uma característica rara e singular. Recebe este nome devido a uma formação de líquenes que se desenvolve ao lado da queda d`água, descendo da parte alta e praticamente tocando o solo, na parte inferior. A vegetação local é densa e fechada. Praticamente não recebe a presença da luz solar. Uma verdadeira obra da natureza. Para chegar ao local percorremos os últimos quatrocentos metros dentro do leito do rio que forma a cachoeira. O nível da água, totalmente gelada, chegou a atingir a altura do peito, mas todo este esforço valeu a pena. Esta cachoeira foi descoberta recentemente e é totalmente desconhecida dos próprios aventureiros locais.

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Terceiro dia

Em Cachoeiras não deixamos de conhecer um dos mais expressivos exemplar da botânica brasileira. Trata-se de uma árvore da família Cariniana Legalis, conhecida como Jequitibá Branco, com mais de 350 anos. Está localizada na Boca do Mato e possui 19 metros de circunferência e cerca de 50 metros de altura. Numa caminhada relativamente fácil, chegamos a este paraíso escondido na mata onde encontram-se outras espécies, algumas até ameaçadas de extinção.

Mas Cachoeiras de Macacu não atrai apenas pelas belezas naturais. Ela possui também algumas histórias curiosas. Em São José da Boa Morte há as ruínas de uma igreja antiga, supostamente construída em 1.612, pelos jesuítas. Recebeu este nome por causa de uma grande epidemia de malária que dizimou parte da população local, na metade do século XIX. A igreja serviu então como refúgio aos moribundos que iam para lá, querendo morrer em paz. A Igreja de São José da Boa Morte representa um marco histórico na vida do município. Fica localizada a vinte e seis quilômetros do centro da cidade, indo pela RJ-122.

Fechando o dia fomos visitar a Banacéu, uma fábrica artesanal que produz derivados de banana. Lá é o local onde banana tem valor, tudo é natural sem adição de açúcar. Pudemos degustar bananas passa, mariolas (bananadas) alem de sair com os bolsos recheados com balas, também de banana, é claro. A Banacéu fica na RJ-116, a quatro quilômetros antes da entrada da cidade.

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Quarto dia

Fomos conhecer, na minha opinião, a mais bela queda d`água do município, a Cachoeira Santo Amaro. Localizada no rio do mesmo nome é um dos afluentes do Rio Guapiaçu, distante 30 quilômetros do centro da cidade. Suas águas descem por um leito rochoso, estreito, entre musgos e plantas nativas formando um salto de aproximadamente 65 metros de altura e uma ampla piscina natural. As águas são claras, de tonalidade esverdeada e temperatura fria com boas condições para banhos. A paisagem é composta por árvores de grande porte e próximo à cachoeira, estão as samambaias incrustadas nas rochas. Para chegar a este local percorre-se uma trilha de 7 quilômetros a partir da fazendo Santo Amaro. Nos últimos 1.500 metros caminha sobre as pedras no leito do rio, onde a natureza ainda está totalmente intacta.

A descida do rapel desta cachoeira é encantadora. Tem-se uma vista panorâmica de todo o Vale do Guapiaçu e nos dá uma impressão de plena liberdade misturada com a sensação do medo. Logo nos primeiros metros sentimos a água desabando sobre nossas cabeças como se fosse nos matar sufocados, mas logo após recompomos a energia e descemos tateando as pedras como algo infinito.

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Para fechar o circuito deste roteiro resolvemos fazer uma trilha off-road pelas redondezas da cidade. Ao atravessar a parte baixa do Rio Boa Vista o meu jipe Troller, ano 2002, levantou certo volume de água formando uma verdadeira enxurrada. A cena parecia imagem de rallye, mas como nem tudo são flores, tivemos naquele momento a grande frustração da viagem. O Troller não conteve a quantidade de água e sofreu grande infiltração ocasionada pela má vedação nas portas. Resultado, parte da água infiltrada caiu sobre o equipamento fotográfico danificando lentes e flash, o que me gerou um prejuízo orçado em mais de três mil reais. Será que o Troller é realmente um campeão?

Dicas do autor

O ecoturista não precisa se preocupar com o transporte de água para realizar as caminhadas. Por qualquer lugar que ande, certamente irá encontrar o curso d`água de um dos 26 rios que cortam o município. Todos com água cristalina. Não é à toa que Cachoeiras de Macacu possui uma das maiores fontes de água mineral do estado.

Como uma das cidades serranas fluminenses possui a terceira trilha, em extensão, dentro dos domínios de Mata Atlântica. A trilha está sendo ampliada para se tornar a maior desse ecossistema – vai ligar a Pedra do Faraó à Lumiar.

Para realizar qualquer caminhada, recomendo o acompanhamento de guias que conheçam bem a região, uma vez que as trilhas são pouco visitadas. É importante estar bem informado sobre a trilha que se pretende percorrer já que algumas delas poderão exigir bastante preparo físico.

Conhecendo Cachoeiras de Macacu o visitante estará entrando em contato com um dos lugares de beleza natural mais interessantes do país e quem sabe este local não se transforme, num futuro próximo, na Chapada Diamantina dos fluminenses?

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Onde ficar

Hotel Cachoeiras Palace (o melhor da cidade)

Rodovia RJ-116, km 40 – Parque Santa Luzia – Cachoeiras de Macacu
– Oferece: 45 suítes com TV, telefone, frigobar e ar condicionado.
– Possui restaurante com piano`s bar, sala de convenções, área de lazer com piscina, sauna , sala de ginástica, sala de jogos e quadra poliesportiva.
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Como chegar

Há dois caminhos para chegar em Cachoeiras de Macacu, partindo da cidade do Rio de Janeiro. De Niterói pegar a RJ-101 até Itaboraí e depois seguir pela RJ-116 até Cachoeiras. Outra opção é seguir pela BR-116 até Guapimirim e depois pela RJ-122 até o município.

Quem Leva

Trilhas&Trilhas
Ecoturismo – Aventura – Educação Ambiental
Rua Edgard Salles, 560 – São Paulo – SP – CEP: 02633-020
Fone: (11) 6233-7572
E-mail: [email protected]

Autor: Jurandir Lima
E-mail: [email protected]
Site: http://www.trilhasetrilhas.com.br

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Escrito por Mauricio Oliveira

Maurício Oliveira é social media expert, consultor e influenciador de turismo e empreendedor. CEO do portal Trilhas e Aventuras, também conta suas experiências de viagens pessoais no blog Viagens Possíveis. Especialista em Expedições na Rota das Emoções e Lençóis Maranhenses. Ama o que faz no seu trabalho e nas horas vagas também gosta de viajar. Siga no Instagram, curta no Facebook, assista no Youtube.

12 Comentários

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  1. Cuidado com seu carro!!! Ele pode ser vandalizado como aconteceu com o meu no último domingo dia 09/01/2016 na Cachoeira sete quedas. Arranharam com pedra toda a lataria e vidros.
    Muito Obrigado secretaria de turismo pela atenção e segurança empregada aos moradores e visitantes deste lugar maravilhoso!!!

  2. Primeiramente quero parabenizar pelo trabalho, lindo.
    Sou novo morador do vilarejo do guapiaçu em cachoeiras de Macacu e trabalho com resgate.Vendo a matéria do site, me deparei com uma cachoeira que eu não conhecia e conversando com moradores locais, ninguém soube me dar mais informações sobre a cachoeira de Santo Amaro.
    Por gentileza, vocês poderiam compartilhar comigo as informações sobre como ter acesso a essa cachoeira?
    Obs:me refiro a de 65 metros

    Att.

  3. Ótimo artigo, parabéns e obrigado pela visita!

    Só uma pequena correção: a rodovia que se pega de Niterói para chegar à Cachoeiras de Macacu é a BR-101, não RJ-101.

    Abs!

  4. Achei o artigo muito interessante e informativo. Já tinha ouvido do PE dos Três Picos mas nunca encontrei muitas informações sobre o lugar.
    Confesso que fiquei bastante confuso com as datas e referências futebolisticas. O artigo foi postado em fevereiro de 2014. Mas quando aconteceu a viagem? Diz, por exemplo “No último dia 05 de junho […] foi criado o Parque Estadual dos Três Picos.” Então o PE foi criado em 2013? Outra referência á “conquista do título de pentacampeão.” Em que ano, então, foi esta viajem? Se eu viajar agora, cou encontrar as mesmas condições daquele tempo?

    • Peter, desculpe entrar aqui na discussão, mas gostaria de entrar em contacto consigo a propósito de uma proposta editorial. Escrevo da Universidade de Glasgow, onde ensino Português, e temos uma amiga em comum dos tempos do King’s College – se for o mesmo Peter Schambil que procuro!

      Atentamente,

      Luís

  5. Olá, qual a cachoeira que está na terceira foto?
    O texto que está próximo a essa foto fala das cachoeiras do tenebroso e da terceira dimensão, mas não parece com nenhuma delas.

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