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Trekking com tempero baiano no Morro de São Paulo

A chegada a Morro de São Paulo surpreende primeiro pelas ruínas do forte e depois pela quantidade de verde e pelo imponente farol no topo do morro. Quando se desembarca o encanto desaparece um pouco pela falta de cuidado com o pequeno ancoradouro e pela ladeira que os turistas são obrigados a subir carregando suas malas. Na verdade não são obrigados já que existem vários habitantes que se “oferecem” para ajudar a carregar as malas em carrinhos de mão que são improvisados para esse fim. Aproveitam também para “indicar” pousadas, que na sua grande maioria são confortáveis. Após estar devidamente instalado em uma das muitas pousadas da cidade está na hora de conhecer Morro.

Ah, um lembrete: não existem ruas, calçadas ou veículos motorizados na ilha. O tempo todo é a pé e na areia. Os únicos veículos motorizados são tratores que são usados para puxar trenzinhos que serve de locomoção entre as praias mais distantes.

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Um pouco de história
A vila de Morro de São Paulo surgiu em 1535, no lado norte da ilha de Tinharé, como forma de barrar os constantes ataques que as cidades do continente sofriam pelos índios tupiniquins e aimorés.

Na entrada da cidade o viajante que chega de barco passa por um grande portal, que é um dos símbolos de Morro de São Paulo. A esquerda desse portal se encontra a Fortaleza de Morro de São Paulo (ver foto 1), cujo início de construção se deu em 1630, e 100 anos depois sofreu uma expansão que acrescentou a cortina de muralhas, com mais de 670 metros de extensão, e o Forte da Ponta.

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Essa preocupação com a fortificação da ilha tinha fundamento. Morro de São Paulo fica localizada na chamada “barra falsa da Baía de Todos os Santos” e por isso protegia a entrada do Canal de Itaparica que se estende até o Forte de Santo Antônio (hoje Farol da Barra) em Salvador. Mas hoje em dia o que mais impressiona são os golfinhos que volta e meia passam por ali e o pôr-do-sol visto da fortaleza (ver foto 2).

Outro ponto estratégico de Morro é o mirante do Farol. Apesar do Farol só ter sido construído em 1855, o cume do morro já era usado anteriormente para observação do horizonte. Hoje em dia o mirante é um dos melhores lugares para se ver quase todas as praias e ter um idéia do que o turista pode esperar desse paraíso.

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A primeira impressão é a que fica
Como já mencionei, sugiro que o aventureiro que chegue a Morro, primeiro vá ao mirante do Farol e dê uma boa olhada no maravilhoso visual. A subida não é puxada mas já demonstra que deve-se ter preparo físico para conhecer a cidade. Em mais ou menos 15 minutos se chega ao topo e durante todo o caminho a mata é fechada não dando nenhuma idéia do que se poderá ver lá de cima. Esse mistério parece proposital e é importantíssimo para não quebrar o choque inicial da “primeira impressão”.

Durante o caminho pode-se ver pássaros variados e bandos de micos que chegam a ficar a poucos metros dos visitantes. Ao se chegar ao topo, passar pelo Farol (ver foto 3) e se debruçar pela mureta de proteção do mirante, o turista sentirá um misto de euforia e deslumbramento. O visual é maravilhoso e indescritível e nem a melhor foto (ver foto 4) pode demonstrar a sensação que se tem ao se deparar com essa paisagem. Pode se ver da primeira até a terceira praia e perceber a clareza de suas águas.

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As praias
Bem, o “choque” já foi dado, agora é hora de descer e conhecer cada um das praias. Para começo de conversa nenhuma delas tem nomes e são chamadas pela sua ordem: primeira, segunda, terceira e quarta.

Na primeira praia, que ainda está dentro do “centro urbano” de Morro, se encontram várias casas de veraneio e pousadas. Essa é a única praia que possui condições para o surfe, mas as ondas são baixas e a melhor época do ano para a prática é o inverno. Deve-se tomar cuidado pois existem muitos corais ao longo das 3 primeiras praias e o surfista desatento pode acabar se machucando. Além disso ela já mostra sinais de poluição.

Na segunda praia já se vê um número maior de pousadas mais sofisticadas. Essa é também a praia do agito. As grandes festas de Morro acontecem aqui, além de rodas de capoeira e muito divertimento. No verão se encontram muitos estrangeiros nessa praia principalmente argentinos.

A terceira praia oferece mais pousadas, restaurantes e um camping. Essa praia é mais calma e proporciona bons locais para mergulho. Devido a Ilha de Caitá, que se localiza bem a frente dessa praia, e sua barreira de corais, o mergulho é a melhor pedida, existindo alguns pontos de aluguel de snorkel, pé-de-pato e óculos para a prática desse esporte. Além disso pode-se alugar caiaques para se ir até a ilha de Caitá. Dependendo da maré formam-se pequenas piscinas na barreira de corais.

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A quarta praia é a mais extensa de todas e o aventureiro deve estar preparado para uma boa caminhada. Olhando-se da “esquina” entre a terceira praia e a quarta, parece que essa última não tem fim. À medida que se caminha por essa praia o agito e o barulho das outras vão ficando para trás e passa-se a só se ouvir o barulho do mar e do vento. Essa praia é ótima para se descansar embaixo de um de seus coqueiros, ler um livro, mergulhar (como em todas as outras praias!!) ou simplesmente caminhar.

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Por causa de uma outra grande barreira de corais, dependendo da maré mais um grupo de piscinas surge nessa praia. Muito de vez em quando aparece uma pousada ou um bar/restaurante e é melhor o turista estar levando água e algo para comer. Um desses “oásis” é a Pausada Catavento que, além de ser muito aconchegante, possui um excelente restaurante. Aconselho fazer uma parada estratégica por lá e se deliciar com os pratos de frutos-do-mar. Como a caminhada até aqui é extensa, pode-se pegar um trenzinho puxado por trator e voltar até a terceira praia sem muito esforço.

Outras coisas para se fazer
Existem passeios diversos para se fazer em Morro.
Se estiver com disposição pode-se continuar andando até o final da quarta praia e chegar a praia de Zimbo, que possui um pequeno vilarejo. Passando por Zimbo chega-se a Guarapuá, que é uma pequena vila de pescadores. Esse vilarejo está localizado em uma enseada maravilhosa (ver foto 5) e pode-se aproveitar e comer bons pratos de frutos-do-mar, principalmente a moqueca de siri catado e as famosas lambretas (são semelhantes às ostras e, segundo os locais, são igualmente afrodisíacas). Se o viajante ainda tiver pernas pode continuar e chegar até o rio que separa a ilha de Tinharé da de Boipeba.

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Esse mesmo passeio pode ser feito de trator ou de barco. O passeio até Boipeba é longo e cansativo e não obrigatoriamente é recompensador. Para ser sincero eu mesmo decidi não fazê-lo e optei por um passeio mais curto até as piscinas naturais, com um parada para almoçar em Guarapuá. Esse passeio é maravilhoso, mas nem um pouco recomendado para pessoas que enjoem (o que é o caso da minha namorada!!!).

Pega-se um barco de pescador (algo parecido com uma traineira) na primeira praia e depois de mais ou menos 1 hora e meia chega-se às piscinas naturais (ver foto 6). São piscinas que se formam em um conjunto de corais a uma boa distância da praia e pode-se mergulhar tranqüilamente entre cardumes de peixes e até arraias. A água é cristalina e a visibilidade é total. Poderia passar horas nesse lugar sem me cansar e sem repetir uma piscina!!

Um outro passeio interessante e pouco feito pelos turistas é ir até a vila de Gamboa. Fica exatamente para o lado oposto das praias principais de Morro. Perto do Portal (Lembram-se? Aquele bem na entrada da cidade) há uma descida pelo lado esquerdo e caminha-se por um conjunto de pedras até se chegar a uma primeira praia. Continua-se caminhando até chegar ao Iate Clube de Morro!! É verdade, Morro possui um Iate Clube que nos meses de verão recebe grandes embarcações de várias partes do Brasil e até do exterior. Passa-se pela praia do Iate Clube (ver foto 7) e mais caminhada até chegar a uma praia tão grande quanto a quarta praia. Nessa praia existe a vila de Gamboa, com pousadas, bares e restaurantes.

Confesso que o caminho até Gamboa é mais interessante do que a vila em si, mas vale a pena ir até lá, principalmente porque é de lá que se volta para Morro. Em Gamboa existe um pier que se pode esperar o próximo barco de retorno a Morro. É recomendável que se utilize esse meio de transporte para retornar já que ao final do dia a maré sobe e o caminho de volta, pelas praias, fica impossível. E o pior que você só descobre isso quando já está pertinho de Morro!!! Essas embarcações estão vindo de Valença e cobram R$1 para quem embarca em Gamboa.

Morro “by night”
As noites de Morro são agitadas. Tanto que é comum moradores de Valença e Salvador virem para Morro na sexta para curtir a noite e passar o final de semana. Na praça principal acontece a feira de artesanato onde se pode achar desde peças de decoração, roupas e bijuterias (ver foto 8). Há, ainda, as lojinhas de roupas e lembranças, que oferecem muitas opções não só a noite mas durante o da todo. É possível ficar batendo papo com os amigos em um agradável bar, ir ao Teatro do Morro, dançar e conferir os músicos locais, ou curtir até o sol raiar nas festas que acontecem, todas as noites, na 2ª Praia ou na Toca do Morcego.

Onde comer
Um dica importante: não acredite quando o garçom falar que o prato só dá para uma pessoa!!! Quase todos os pratos dão para duas pessoas, a não ser que você seja do tipo que coma muito.

Como Morro é uma cidade muito grande, só possui duas ruas: a rua caminho da praia (que começa na praça principal e vai até a segunda praia) e a rua da fonte grande (que vai da praça principal até a Fonte Grande). Os melhores locais para se comer estão na praça e na rua caminho da praia. Como são muitos restaurantes, um ao lado do outro, fica difícil de se guardar todos os nomes, mas vou fazer o possível para localizá-los bem na rua.

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Na praça há a pizzaria Via Brasil com ótimas massas e pizzas feitas no forno a lenha. Em frente a essa pizzaria existe um bar com dois andares onde se pode saborear petiscos variados e ter uma boa visão da feira de artesanato e de toda a praça. Ao lado desse bar, já entrando na rua caminho da praia (indo em direção às praias), existe um excelente restaurante (o único que vi com ar condicionado!!) que serve pratos mais requintados e não são caros. Nesse restaurante os pratos são individuais. Descendo um pouco mais a rua, do lado direito o turista desavisado pode se surpreender com a construção que encontrará. Trata-se do “Planet Morro”, uma espécie de Planet Hollywood versão Morro de São Paulo. É o tipo de bar/restaurante/pizzaria que se pode recorrer quando estiver com saudade da comida servida nas grandes cidades!! Descendo um pouco mais, e mudando de lado, encontra-se uma pequena creperia. Essa creperia é de uma dupla de franceses que fazem crepes maravilhosos, com destaque para os de Nutella. Durante a caminhada por essa rua passa-se por diversas barraquinhas que vendem de tudo desde frutas da época até doces e sanduíches.

Como já havia dito, é imperdível um almoço na Pousada Catavento na quarta praia. Claro que a especialidade é frutos-do-mar e vale a pena qualquer prato nesse estilo.

De um modo geral todos os restaurantes de Morro servem uma comida boa, farta e barata, logo a dica é experimentar todos!!!

Onde ficar
Morro possui dezenas de pousadas e acredito que a maioria seja recomendável. Algumas se destacam como a pousada “O Casarão” que fica na praça principal e serviu de hospedagem a D. Pedro I quando da sua visita à fortaleza de Morro de São Paulo.

As pousadas da segunda e terceira praias são muito boas também mas necessitam de reservas com uma certa antecedência pois são as preferidas pelos estrangeiros. Outro destaque é a Pousada Catavento na quarta praia que possui ótimos quartos. Claro que existem pousadas mais em conta e para mochileiros de plantão as opções são variadas. Além disso existe o camping que fica na terceira praia.

Uma dica: se você não consegue dormir com o barulho de pernilongos e outros bichos mais, procure pousadas cujos quartos possuam ar-condicionado.

O que levar
Roupas leves, roupa de banho, sandálias (para caminhar bastante), muito protetor solar, protetor labial, chapéu ou boné, máquina fotográfica (e vários rolos de filme) e muita disposição para caminhar e curtir esse paraíso. Leve também dinheiro já que lá não existe banco e em alguns lugares não se aceita cheque.

Como chegar
Uma coisa você nunca vai poder dizer: “Não fui a Morro porque não tinha como chegar lá!!”. Existem vários meios de se chegar a Morro.

Carro/ônibus: pode-se ir de carro ou ônibus até Salvador e de lá pegar embarcações que levam 1 hora e 40 minutos de travessia até Morro. Também pode-se ir de carro ou ônibus até Valença e de lá pegar embarcações que levam poucos minutos até Morro.

Barco: como já mencionei acima pode-se ir de barco saindo de Salvador ou de Valença. De Salvador existem as lanchas rápidas, catamarãs e os ferry-boats. As lanchas rápidas e os catamarãs saem do Terminal Marítimo do Mercado Modelo. Os ferry-boats saem do Terminal São Joaquim.

Avião: existem duas companhias (Aerostar e Adey Táxi aéreo) que fazem vôos entre Salvador e Morro, com duração média de 20 minutos. É recomendado para pessoas que enjoam em barcos/lanchas. As duas empresas possuem pistas de pousos próprias em pontos diferentes da Ilha de Tinharé.

Últimas informações
Morro possui um cyber-café também!! Fica na rua caminho das praias, ao lado da delegacia de polícia. Sim!!! Morro também tem delegacia de polícia!!!

Autor: Marcelo Barbosa
E-mail: [email protected]

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Escrito por Mauricio Oliveira

Maurício Oliveira é social media expert, consultor e influenciador de turismo e empreendedor. CEO do portal Trilhas e Aventuras, também conta suas experiências de viagens pessoais no blog Viagens Possíveis. Especialista em Expedições na Rota das Emoções e Lençóis Maranhenses. Ama o que faz no seu trabalho e nas horas vagas também gosta de viajar. Siga no Instagram, curta no Facebook, assista no Youtube.

2 Comentários

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  1. Sei que tem uma trilha que vai da Gamboa e dá no povoado do Galeão (que não tem muita visibilidade turística), já vi algumas pessoas indo de mountain bike ou moradores mesmo vão com bicicletas comuns. No Galeão tem a Igreja de São Francisco Xavier no alto de um morro e o visual é bastante compensador.
    Essa trilha passa por dentro da mata, corta um manguezal e tem muitas partes alagadas, não sei se dá para fazer a pé, próxima vez que eu for lá vou procurar mais informações para tentar fazer o percurso de bike e depois trekking.

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