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Nada além de 20 porcento

Desde janeiro de 2000 as férias estavam programadas para julho de 2001. Iríamos realizar o Projeto Jalapão. Conhecer o leste do estado do Tocantins e ver uma das regiões mais desabitadas do Brasil, repleta de cachoeiras e aventuras: o Deserto do Jalapão. Mas como diz meu sogro, a vida só nos permite realizar 20 por cento de nossos planos e, infelizmente, o Projeto Jalapão ficou nos 80% não realizados, cedendo lugar a outro projeto: a construção de nossa casa.

Resolvemos começar a obra no final da temporada de chuvas que aqui no paraíso, digo, nordeste, vai até o final de julho.

Alterei o início das ferias para o dia oito de agosto, assim teria trinta dias para poder acompanhar melhor os trabalhos dos pedreiros e ir atrás de material necessário. Nas tardes vagas, pretendia passear com minha filha pela praia, aproveitando o delicioso sol vespertino.

Planos demais…

Às vésperas de iniciar as férias, recebi uma incumbência de meus colegas de trabalho. Deveria servir-lhes de guia para uma excursão pelo interior da Paraíba, mais precisamente pela fria região do Brejo Paraibano, para apresentar-lhes as belezas que esse estado possui e que os patrícios não conhecem.

Uma colega encarregou-se da organização, enquanto eu estabelecia o roteiro.

Partimos no sábado, dia 11, em um ônibus alugado com destino à cachoeira do Roncador no município de Pirpirituba. Foi um sucesso. Após muito banho nas águas geladas e gostosas da cachoeira, almoçamos e seguimos em direção ao hotel na cidade de Bananeiras.

O Hotel Pousada do Brejo é uma construção peculiar. Antiga estação de trem; foi adaptada para funcionar como hotel após a extinção do trafego ferroviário. As acomodações são simples mas aconchegantes. Seguindo pela rua que passa em frente ao que outrora fora a plataforma de embarque, chega-se ao túnel que atravessa a montanha, resquício curioso de nossa triste história dos trilhos.

Nos acomodamos e tivemos um período livre para fazer o que quiser. Uns dormiam para recuperar as forças, outros, ainda vigorosos, passeavam pela praça da cidade ou caminhavam até o antigo túnel, e, os mais corajosos, enfrentavam o frio brejeiro tomando banho gelado nos chuveiros das suítes. Mas todos aguardavam ansiosos pela noite pois um lual sem lua nos esperava, regado a muito vinho e queijo. Soube depois que deus Baco reinou até as três da madrugada, quando os boêmios resolveram deitar com medo de não conseguirem acordar a tempo para o café que seria servido até as nove horas.

Na manhã seguinte acordamos preguiçosamente e tomamos o café muito bem servido pelo senhor Moacir, proprietário do hotel.

Nosso programa para o domingo, dia dos pais, seria seguir até uma cidade próxima que tem um nome muito famoso: Roma.

É uma cidadela que tem uma igreja no topo de uma montanha conhecida como Cruzeiro de Roma. A vista de lá é uma das mais belas do estado. Pode-se avistar as cidades de Belém e Pirpirituba, além de uma bela represa e outras paisagens deslumbrantes.

Muitos religiosos se aventuram até lá todos os domingos, enfrentando valentemente o íngreme caminho que leva ao cume, para assistirem à missa matinal.

Resolvemos fazer o mesmo e, animados, o ônibus tomou o caminho. Porém, as pedras do percurso impediram que o veículo fosse até em cima, obrigando-nos a caminhar novamente.

Os menos dispostos, ao olharem a igreja e mensurarem a altura que deveriam vencer, resolveram ficar no ônibus. Metade se atreveu a subir e foram recompensados por um visual que imaginavam não existir na Paraíba.

O regresso ao ônibus foi meio conturbado pois uma chuva inoportuna nos pegou pelo caminho.

Preocupado em proteger a Serenna, tomei-a nos braços e pus-me a correr. A estrada de terra cheia de erosões impunha atenção redobrada para não escorregar. Depois de correr por algum tempo, fui tomado pelo cansaço e passei a caminhar. A Serenna encarava como brincadeira, achando que estava galopando num cavalo. Para proteger a pequenina das gotas de chuva, utilizava minha camisa cobrindo suas costas e cabeça. Mas a criança queria ver o caminho e lutava para se livrar dos panos que tapavam sua visão.

Esse constante duelo que travava com ela, eu querendo cobrir-lhe a cabeça e ela querendo o contrário, me fez perder a atenção aos passos que dava e, de repente, o chão me faltou aos pés e senti que a terra se aproximava. Havia pisado em um buraco cavado pelas águas de chuvas passadas que, embora raso, foi suficiente para me fazer perder o equilíbrio e despencar feito um saco de batatas. Na queda torci violentamente o pé esquerdo e a Serenna bateu com a parte posterior da cabeça no chão, apesar de sua pancada ter sido amortecida pelas minhas tentativas infrutíferas de recuperar o equilíbrio. Ela se pôs a chorar e todos correram para ajudar. Senti que algo mais sério acontecera com meu tornozelo, pois imediatamente começou a inchar e um calombo dolorido surgiu.

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Nos braço da Paula, a Se-sec tornou-se serena, diminuindo nossa aflição. Restava meu pé. Apoiado em ombros amigos, consegui caminhar até o ônibus. Lavamos os ferimentos cobertos de terra e seguimos viagem rumo ao restaurante onde almoçaríamos em Guarabira.

No caminho mentia a todo o momento quando me perguntavam se estava doendo.

Arrumaram gelo e fiquei aplicando sobre o tornozelo ferido.

O almoço transcorreu sem maiores problemas, salvo pela falta de troco na hora de pagar a conta. Enquanto os outros discutiam como dividir o dinheiro, eu me divertia com as crianças fazendo mágicas de baralho.

Chegando em João Pessoa, houve uma rápida despedida e cada um pegou seu carro indo embora para suas casas. Menos nós.

Com o pé daquele jeito, o mais sensato seria ir a um hospital radiografar. O inchaço indicava algo mais grave. Passamos pelo ortopedista e após examinar as chapas, disse que tive sorte em não quebrar nenhum osso, só rompendo os ligamentos.

O doutor disse que precisaria engessar e passaria assim por três semanas, ou seja, praticamente todo o tempo restante de minhas férias.

Pois aqui estou, com o pé para cima e tempo suficiente para escrever-lhes esse relato.

Mais uma vez a vida não deixou que realizasse os planos e a compra de material para a obra, bem como seu acompanhamento e coisas afins, fincaram nos 80% não realizáveis.

Abraços a todos com o pé esquerdo para cima.

Autor: Alessandro Polo.
E-mail: [email protected]
Cidade/UF: João Pessoa – PB

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Escrito por Mauricio Oliveira

Maurício Oliveira é social media expert, consultor e influenciador de turismo e empreendedor. CEO do portal Trilhas e Aventuras, também conta suas experiências de viagens pessoais no blog Viagens Possíveis. Especialista em Expedições na Rota das Emoções e Lençóis Maranhenses. Ama o que faz no seu trabalho e nas horas vagas também gosta de viajar. Siga no Instagram, curta no Facebook, assista no Youtube.

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