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Travessia Marins – Itaguaré, um trekking clássico no Brasil

A travessia Marins-Itaguaré não é tão conhecida como a de Teresópolis-Petrópolis ou a Trilha do Ouro na Serra da Bocaina, mas ao meu ver é uma das mais interessantes da região Sudeste do Brasil, exatamente pelo grau de dificuldade: médio/pesado. É um roteiro ideal para quem quer caminhar, literalmente, acima das nuvens numa viagem às cristas da Mantiqueira, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Faz parte da chamada Terras Altas da Mantiqueira, próximo às cidades de Itanhandu, Itamonte, Virgínia, Passa Quatro, Pouso Alto e Alagoa, todas em Minas Gerais.

O Pico dos Marins, com seus 2.422 metros de altitude, localizado no município de Piquete, é considerado um dos pontos culminantes do estado de São Paulo – alguns afirmam ser o mais alto. Verdade ou não, o Marins é um local bastante recomendado para o ecoturismo devido a sua grande beleza que, nos dias e noites de boa visibilidade, consegue-se avistar várias cidades ao seu redor com mais de 1.500 metros de desnível.

O Pico do Itaguaré, com 2.308 metros de altitude, localizado no município de Passa Quatro, possui como ponto culminante um rochoso pontiagudo com a espetacular visão do Vale do Paraíba em São Paulo, o Pico das Agulhas Negras (Itatiaia) e a imponente Serra Fina, destacando a Pedra da Mina, o quarto ponto mais alto do país.

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Para chegar aos cumes dos Marins e Itaguaré, a aventura torna-se uma verdadeira escalaminhada, isto é, usa-se mãos e braços para ganhar altura. É uma caminhada marcante, tanto pela árdua subida, como pela bela paisagem que irá apreciar. Dos respectivos cumes, a bela visão panorâmica mesclando com a vegetação e as imensas rochas nos dão a sensação de vitória aliada à recompensa.

Para realizar esta caminhada embarquei juntamente com um grupo de mochileiros (7 mulheres e 8 homens), aproveitando o último feriado prolongado do ano. Partimos de São Paulo dia 05 de julho, num ônibus da Trilhas&Trilhas – operadora de ecoturismo. Neste dia fomos até a cidade de Lorena/SP onde pernoitamos num hotel.

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Primeiro dia

Pela manhã seguimos pela BR-459, rodovia que liga a Via Dutra ao Sul de Minas. Subimos a Serra de Piquete em direção a Delfim Moreira, até encontrar um posto de abastecimento. Neste posto transferimos nossas mochilas para uma Kombi que iria transportá-las até o Morro do Careca a 1.638 metros de altitude – último ponto de acesso com automóvel em direção ao cume dos Marins. Do mesmo posto seguimos em frente, no ônibus, e após 500 metros encontramos uma placa indicando Fazenda Saiqui, à direita. Seguimos por esta estrada, cruzamos a fazenda e após 17 quilômetros chegamos ao Rancho dos Marins. A partir deste ponto deixamos o ônibus e fomos até o Morro do Careca por uma estrada onde somente veículos 4×4 conseguem trafegar. Do Morro do Careca se tem um vista panorâmica de todos os picos que cercam os Marins – ideal para as primeiras fotografias da caminhada.

Do Careca continuamos por uma trilha, inicialmente numa mata fechada e depois subimos um morro enorme e, de certa forma, bastante cansativo. Após subir este morro a trilha estava toda sinalizada com setas contornando outros aclives menos íngremes. Continuamos pela trilha e após 3 horas de caminhada encontramos um riacho num pequeno vale. Neste local, a 2.322 metros de altitude, armamos nosso acampamento. A idéia era fazer o ataque ao cume do Pico na madrugada seguinte.

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Segundo dia

O objetivo inicial era subir ao cume antes do astro-rei transpor seus primeiros raios solares, porém acordamos com uma indesejável aurora que contrariou os nossos desejos. Fomos surpreendidos com fortes rajadas de vento soprando como se fossem lançar-nos ao longe. Pensando no aspecto segurança, o grupo decidiu abortar a idéia e iniciar a travessia rumo ao Itaguaré. Chegamos à conclusão que foi um bom motivo para que retornemos novamente a este local onde a natureza sempre nos presenteia com sua beleza singular.

Logo nos primeiros minutos da travessia o vento soprava ainda mais forte – certamente chegou aos 120 km/h. Alguns tiveram que dar as mãos para conseguir se locomover, do contrário poderia transformar-se em verdadeiros homens-pássaros. A dificuldade foi intensa até chegar ao Marinzinho – primeiro maciço da travessia.

Seguindo a jornada passamos pela impressionante Pedra Redonda – uma enorme rocha de aparência circular equilibrando-se sobre outra menor – praticamente no centro da trilha. No caminho entre os desgastantes sobes-e-desces, cruzamos vários penhascos um tanto quanto perigosos, porém com uma formação vegetal incomparável. Além das diversas bromélias observadas, encontramos orquídeas com características adaptadas ao clima local. Tudo contrastando com a imensa variedade de líquenes. O líquen é o resultado do fungo + alga. Só é encontrado onde não há a ocorrência do SO2 – dióxido de enxofre – que é liberado na queima do diesel.

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A frente fria que estava sendo anunciada nos acompanhou por todo o percurso e ao final do dia, exaustos, conseguimos chegar na base do Itaguaré. O tempo que não quis ser hospitaleiro, acabou colaborando até que montássemos nosso segundo acampamento. Depois dá-lhe garoa acompanhada de muito frio e vento. Mas como bons aventureiros não podem perder o ânimo, juntamo-nos em uma única barraca para cantar parabéns a um dos integrantes do grupo. Para comemorar, cortamos um bolo Pullman (devoramos parte do café da manhã seguinte).

Terceiro dia

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Novamente fomos acordados com a presença do vento soprando forte, entretanto o tempo nos surpreendeu. O dia amanheceu limpo e sem uma única nuvem no céu. Também pudera, estávamos sobre elas.

Sem economizar esforço, subi num morro e aproveitei as primeiras horas do dia para dar as minhas clicadas. Apesar do friozinho intenso a luz foi favorável resultando em belas imagens fotográficas.

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Por volta das 9 horas da manhã subimos ao Cume do Itaguaré e fomos contemplados com um cenário que, aos nossos olhos, pareciam imagem de cinema. Concluímos que todo aquele esforço, durante os últimos dois dias, valeu a pena.

Descemos o Pico e fomos em direção ao bairro Pinheirinhos, por uma trilha que serpenteia uma mata fechada. Após 2 horas chegamos numa estrada de terra. Percorremos 18 quilômetros numa Kombi e, felizmente ou infelizmente, voltamos à civilização. Como o cansaço era nítido, fomos merecedores de uma ducha, após dois dias sem banho. Estávamos hospedados na Estalagem Usina Velha, um lugar agradável com a cordialidade dos costumes mineiros.

Foi interessante observar como uma das integrantes do grupo estava equipada. A Yayoe Sakai, 51 anos, aposentada, montanhista há 15 anos – já subiu o Monte kilimanjaro na Tanzânia, com 5.895 metros de altitude e o Aconcágua na Argentina com 5.400 metros – fez toda a caminhada usando uma sandália plástica do tipo Melissa. Ela comenta que sofre o problema de transpiração nos pés e não se adapta ao uso de botas ou tênis. Na opinião dela, a sandália possui garras e é aberta para ventilação favorecendo as caminhadas.

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Quarto dia

Foi um dia de puro lazer. Sem grandes dificuldades, fomos a um passeio light conhecer a Cachoeira da Gomeira com cerca de 40 metros de altura. É um dos cartões postais da cidade. Vale a pena conhecê-la. Para chegar a esta cachoeira caminha-se por um belo vale repleto de araucárias.

A tarde, após o delicioso e farto almoço da bem temperada culinária mineira, retornamos a “Sampa” com um belo sol de inverno. Sem dúvida, foi uma viagem marcante, sobretudo por ter nossos pés caminhando a mais de 2.200 metros de altitude numa das formações rochosas mais exóticas do nosso país.

Onde ficar

Estalagem Usina Velha
Com restaurante especializado em comida mineira
Rodovia MG 158 – km24 – Pinheirinhos – Passo Quatro – MG
Tel: (35) 3371-3556 / 9963-4248

Dicas do autor

A melhor época do ano para esta travessia é no inverno, entre os meses de maio a setembro, quando o clima fica seco, pois no verão as chuvas impossibilitam qualquer caminhada segura. No inverno as cachoeiras e as piscinas naturais passam a ter suas águas ainda mais geladas, mas com uma boa dose de inspiração serve para um delicioso banho.

A região é bem complicada para caminhar sozinho. Recomendo a incursão pela trilha, apenas acompanhado de guias que conheçam bem o local. Há vários totens pelo caminho (alguns confundem), porém a melhor maneira é seguir pelas setas amarelas pintadas sobre as pedras.

Procure levar todo o suprimento necessário para a travessia que, em geral, é realizada em 3 dias. A água é imprescindível, praticamente escassa no alto das montanhas.

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Leve casaco para baixas temperaturas, touca, luvas e meias de lã. Na mochila, deve constar protetor labial, filtro solar, repelente, óculos escuros, capa de chuva, chapéu, lanterna, pilhas reservas e claro, o kit de primeiros socorros, entre outras tralhas. Não esquecer o saco de dormir, pois nas noites frias de inverno a temperatura chega facilmente próximo a zero grau . Evite levar excesso de peso, pois a caminhada é longa e cansativa.

É importante trazer todo o lixo produzido e, se possível, recolha os resíduos que outros deixaram (pessoas que não mereciam conhecer este local).

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Vale a pena levar máquina fotográfica que irá proporcionar-lhe belas imagens.

“Lembre-se uma montanha nunca é vencida, apenas conquistada”

Quem Leva

Trilhas&Trilhas
Ecoturismo – Aventura – Educação Ambiental
Rua Edgard Salles, 560 – São Paulo – SP – CEP: 02633-020
Fone: (11) 6233-7572
E-mail: [email protected]

Autor: Jurandir Lima
E-mail: [email protected]
Site: http://www.trilhasetrilhas.com.br

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Escrito por Mauricio Oliveira

Maurício Oliveira é social media expert, consultor e influenciador de turismo e empreendedor. CEO do portal Trilhas e Aventuras, também conta suas experiências de viagens pessoais no blog Viagens Possíveis. Especialista em Expedições na Rota das Emoções e Lençóis Maranhenses. Ama o que faz no seu trabalho e nas horas vagas também gosta de viajar. Siga no Instagram, curta no Facebook, assista no Youtube.

2 Comentários

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  1. Ainda existe quem diga que o Marins é o ponto culminante de São Paulo? A Serra Fina inteira é muito mais alta, e a Pedra da Mina tem 2798 metros – quase 400 metros a mais que o Marins. Este é, porém, o pico (não o ponto, o pico) mais alto localizado *inteiramente* dentro do Estado de São Paulo, sem estar na divisa com Minas. Quanto à sua amiga que escalou o Aconcágua, ele não tem 5400 metros – isso seria uma colinazinha anã naquela região dos Andes… O Aconcágua tem 6961 metros, quase SETE MIL metros! É o ponto mais alto fora da Ásia, e também o ponto mais alto tanto do Hemisfério Sul quanto do Hemisfério Ocidental.

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