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Gruta da Onça, a maior caverna da Paraíba

Entre algumas de nossas poucas conversas, Gilberto Taboza, colega de trabalho, comentava que ele e os amigos estavam saturados das excursões a Parques aquáticos, Shoppings e Play’s Centers. “Acho que a turma gostaria de algo mais selva” – comentou. Surgiu daí a ideia de irmos à Gruta da Onça.

Demos início aos preparativos para a atividade que denominamos Caminhada Ecológica. Reuniões com os amigos mais experientes – fundamentais para a organização do passeio – aos poucos foram concretizando nosso objetivo. Decidimos que além da caminhada haveria um Rapel (técnica de descida em escaladas), onde somente os “aptos” poderiam descer.

Verificar materiais, como cadeirinhas, freios, mosquetões, conferir a vida útil das cordas, entrar em contato com o proprietário da fazenda, pedir autorização para utilizar o rio, conseguir, rádios comunicadores, locar transportes, enviar ofícios para o Corpo de Bombeiros (informando o local e os riscos da atividade), foram algumas das etapas que pouco a pouco foram vencidas.

Tudo pronto! Manhã fresca de Domingo (12 de novembro de 2000). Café reforçado. Alguns telefonemas para confirmar participantes duvidosos e lá estávamos, rumo à maior caverna descoberta da Paraíba, localizada na Fazenda Santana do Camasco, nas proximidades do Bairro das Industrias, em João Pessoa.

Antes de chegar ao local do início da caminhada – um posto abandonado da Manzuá – um dos guias explicava que seriam duas horas de caminhada até a boca da caverna, sendo 30 minutos pela estrada de barro e o restante através de trilhas estreitas e esporadicamente fechadas pela Mata. Explicava também sobre a importância da preservação daquele Resquício de Mata Atlântica, que como tantos outros no mundo, estava sob constante ameaça.

Um jogo de tentativas avaliava o conhecimento do grupo sobre o tempo de decomposição de objetos ( chiclete, papel , vidro…). E ao mesmo tempo fazia a duração da viagem parecer um piscar de olhos.

Após sabermos que a Mata Atlântica planetária possui 25 santuários em perigo incessante, e que apenas 7% da cobertura original brasileira foi conservada, estávamos prontos para conhecer e preservar o local até então somente idealizado.

Às 7:30h partimos numa fila indiana bem desorganizada, caminhávamos na contramão dos carros rumo à Fazenda. Combinamos que alguns amigos encarregados da preparação do Rapel nos aguardariam lá. A trilha na mata inicia-se de forma tensa para alguns e divertida para outros. Mochileiros imprudentes tentaram criar suas próprias trilhas e acabaram atrasando o grupo – até então o mesmo. Pouco mais de uma hora de caminhada e somos surpreendidos por dois companheiros que chegaram de repente e ainda ofegantes justificaram o atraso. Não havia tempo para justificativas, o calor e a umidade aumentavam na mesma medida em que nos surpreendiam as belezas aparentemente silenciosas da trilha.

Nos pontos críticos da Mata foram feitos apoios com cordas. Obras do grupo que madrugou também com a finalidade de preparar as cordas e o equipamento de escalada. Após a chegada à base de apoio, estrategicamente próximo à entrada da Gruta e ao local do Rapel, constatamos apenas uma baixa, uma leve escoriação na “marinheira de primeira viagem” Sáskia Farias. Talvez, apenas para lembra que o estojo de primeiros socorros sempre deve acompanhar os esportes de aventura, seja ele o trekking, a escalada, montanhismo ou qualquer outro.

Cerca de 10:30h da manhã sentamos para um rápido descanso seguido de lanche. O grupo havia sido instruído para levar comida leve, ou seja, frutas de consistência dura, pão integral, chocolate, biscoitos e líquidos compostos de repositores energéticos naturais.

Em seguida, dividimos o grupo em duas equipes: a primeira foi conhecer a caverna enquanto o outra receberia dicas para aperfeiçoamento da técnica de rapelagem. Optei pela caverna. De cara, o acesso a entrada estava complicado devido ao crescimento da vegetação. Na entrada soubemos que a erosão modifica gradativamente as formas da caverna, apresentando rochas que diversificam suas formas, cores e umidade periodicamente.

Lanternas a postos, adentramos a Gruta da Onça, sem a menor pretensão de descobrir se ela faz juz ao nome. Apenas dez metros de caminhada e a escuridão se apossa do grupo. Aquele famoso “frio no estômago” faz-se presente na maioria dos aventureiros. Nossas lanternas travam um luta desigual contra a escuridão que protege os habitantes locais. Alguns respiradouros – ou suspiros – permitem a entrada de ar e luz em alguns trechos da extensa caverna.

Dentro de seus mais de 300 metros de extensão encontramos uma fauna diversificada e – para espanto de alguns – uma única representante da flora local dentro da sombria caverna. Animais peçonhentos como cobras, caranguejeiras e sapos impõem cuidados ao caminhar no terreno acidentado. Mas, o que mais impressiona mesmo são as pegadas de raposa, facilmente encontradas por um observador cuidadoso. O receio de encontrar um destes animais carnívoros a nossa frente nos fazia prosseguir de forma lenta e silenciosa, percebendo que em se tratando de cavernas, ouvidos apurados valem mais que olhos desacostumados à escuridão.

No teto da gruta, morcegos dormiriam pacificamente, não fosse pela presença de algumas lanternas curiosas a incomodar os mamíferos voadores. Quarenta e cinco minutos naquele local repleto de mistérios e sabedorias que a natureza guarda com magnitude foram mais que suficientes para compreender porque o contato pleno com o meio ambiente natural não tem preço.

Sem muito tempo para retomar o fôlego, saímos da extensa cavidade no interior da terra direto para o aperfeiçoamento das técnicas de rapelagem. Relatórios de acidentes em esportes de montanha comprovaram o que muitos profissionais dessa área alertavam: os acidentes mais graves acontecem justamente na hora das descidas. Um suposto “relaxamento” por parte dos praticantes, aliado à pressa de retornar à base – ou ao solo – fazem do Rapel um tópico imprescindível nos cursos de Escalada.

“Entre os montanhistas é sabido, há muito, que o Rapel é uma técnica que deve ser tratada com muita responsabilidade… a mídia sempre tem espaço para qualquer coisa relacionada ao que chamam de radical e quase nunca para os princípios básicos de segurança…”
(Carlos Vageler)

Com quase trinta metros de altura, o paredão impõe respeito tanto nos aventureiros menos experientes quanto nos mais vividos. Tudo pronto. Hora de rapelar. Interessante também é tentar perceber as sensações de cada um do grupo. Na hora “H” é necessário ter plena confiança nas pessoas que estão fazendo a segurança. E, obviamente, em si próprio.

A corda atada a uma árvore de médio porte, dá a sustentação necessária ao praticante. A cadeirinha (espécie de bermuda de tiras) proporciona conforto e juntamente com o mosquetão ( peça metálica com formato de elo) mantém a pessoa junto à corda e ao freio (peça metálica, as mais conhecidas tem formato de um oito) que ajuda a controlar a velocidade da descida a partir do atrito provocado com a corda.

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A caminhada de volta para casa é interrompida para que possamos desfrutar do rio Gramame e de um banquete de frutas posto à margem do mesmo pela amiga Verônica – possuidora de inquestionáveis dotes culinários. Não faltaram tortas, saladas e sucos, tudo tão sadio e natural quanto o passeio que findaria pouco depois.

“Lembre-se:
Na natureza, nada se tira além de fotos.
Na natureza, nada se deixa além de pegadas.
Na natureza, nada se mata além do tempo.”
(Anônimo)

Autor: Erik Anderson de Oliveira.
E-mail: [email protected]
Cidade/UF: João Pessoa – PB

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Escrito por Mauricio Oliveira

Maurício Oliveira é social media expert, consultor e influenciador de turismo e empreendedor. CEO do portal Trilhas e Aventuras, também conta suas experiências de viagens pessoais no blog Viagens Possíveis. Especialista em Expedições na Rota das Emoções e Lençóis Maranhenses. Ama o que faz no seu trabalho e nas horas vagas também gosta de viajar. Siga no Instagram, curta no Facebook, assista no Youtube.

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