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Aventuras na Serra Fina: “o teto da Mantiqueira”

Onde fica?

Quem observa a Serra da Mantiqueira, da via Dutra, na altura de Lorena no estado de São Paulo, verifica que ela se eleva consideravelmente naquele trecho.

Da esquerda para a direita temos na primeira elevação o maciço que liga os 2421 metros de altitude do pico dos Marins aos 2308 do pico do Itaguaré, na sequência temos uma garganta, que é exatamente por onde passa a rodovia que liga Cruzeiro (SP) à Passa Quatro (MG). A seguir a serra volta a se elevar e, agora ela forma uma massa muito maior que a do trecho Marins/Itaguaré, pois é este o trecho denominado Serra Fina, e seu território está compreendido pelos estados de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.

Por que o nome Serra Fina?

Diria que é porque ela é constituída de vários “braços” no sentido norte/sul, e alguns deles são interligados por estreitas cristas, cujo ápice às vezes tem uma largura de pouco mais de um metro, sendo que ambos os lados não passam de altos precipícios.

Qual a sua importância em termos de montanhismo?

Nela estão alguns dos maiores picos brasileiros, destacando o pico dos Três Estados, que ocupa a décima posição no ranking nacional com seus 2665 metros de altitude, e que possui este nome devido ao fato do seu ponto culminante ser também o ponto geográfico em que se encontram as divisas dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. No cume existe os restos do que outrora foi um marco representando o “encontro” destes três estados.

O outro destaque é a recentemente tão comentada Pedra da Mina, um pico cuja altitude foi medida novamente e com isso acabou “crescendo” 27 metros, desta forma chegou aos 2797 metros de altitude e superou o pico das Agulhas Negras, localizado 19 quilômetros a leste em outro trecho tambêm imponente
da Mantiqueira, no Parque Nacional do Itatiaia. O Agulhas tambêm “cresceu” mas apenas 2 metros, caindo para o quinto lugar no ranking dos maiores do Brasil.

Como costuma ser dividido os 4 dias da travessia?

O primeiro dia tem início no asfalto, para aqueles que vêm de ônibus, no bairro do Pinheirinho em Passa Quatro, próximo ao quilômetro 22 da rodovia que liga Cruzeiro a Passa Quatro, seguindo a estrada de terra que dá acesso ao Clube de Campo.

No primeiro dia caminharemos até o pico Alto do Capim Amarelo (2400 metros de altitude). Um pouco depois do final da estrada, encontramos o primeiro riacho, ao lado da toca do lobo (uma pequena gruta detonada pelos “visitantes”), onde encheremos todos os nossos cantis pela primeira vez com o precioso líquido. Este primeiro dia é marcado principalmente pelas subidas, pois nele venceremos um desnível vertical de 1500 metros.

No segundo dia caminharemos até a Pedra da Mina. Quando estivermos já “próximos” da última subida do dia, a que leva ao teto do estado de São Paulo, encontraremos o segundo ponto de abastecimento dos cantis.

No terceiro dia iremos da Pedra da Mina até o pico dos Três Estados. Neste percurso encontraremos nossa última fonte de água de toda a travessia e, iremos atravessar a esguia crista do Cupim de Boi, com seus 2500 metros de altitude.

Finalmente, no quarto dia iremos até a rodovia que liga a cidade carioca de Engenheiro Passos à mineira Itamonte. Chegando ao asfalto, caso já tenha passado das 16 horas ( horário do último circular que vai para Itamonte), caminhe os 3 quilômetros até a Garganta do Registro, na divisa MG/RJ, e tente uma carona com os caminhoneiros que costumam parar para pegar uma água ou comprar algo nas barraquinhas.

Considerações importantes:

A travessia da Serra Fina não é o que se pode chamar de um passeio no bosque. Pessoas com pouca experiência em trilhas, só devem arriscar suas peles naquelas terras altas acompanhadas de um guia experiente.

Já no caso daqueles que estão acostumados a se arriscar pelos sertões por conta própria, recomendaria o uso do roteiro do livro: Caminhos da Aventura, escrito por Sérgio Beck e que pode ser adquirido com o próprio autor (fone: 11 217-7137 ), alêm da carta topográfica da região (Passa Quatro, escala 1: 50000, e que pode ser adquirida no IBGE) combinada com uma bússola e/ou GPS.

Minha primeira travessia lá, foi feita usando-se principalmente o roteiro do Beck, que não é algo perfeito mas que ajudou muitíssimo. O uso dos roteiros em caminhadas requer o que eu chamaria de uma boa interpretação de texto, pois você tem que “enxergar” no terreno o que o autor tentou descrever no papel.

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Porêm da primeira vez que lá estive para a última (no 12 de outubro de 2000), a trilha melhorou bem, pois agora ela está com mais fitas amarradas nos galhos dos arbustos (plásticas e de tecidos), tótens, que são montinhos de pedras que indicam onde está a trilha, (usados em áreas rochosas ou de vegetação baixa), alêm dos trechos com bambus estarem mais abertos.

Um fator agravante, senão o principal, é o fato da existência de apenas três pontos para coleta de água durante os normalmente 4 dias de caminhada, sendo que existem grupos mais lentos ou menos preparados que correm o risco de ficarem mais dias na serra, e neste caso a água será um fator ainda mais agravante, a não ser que os caminhantes carreguem um volume de água ainda maior.

Para aqueles que pretendem fazê-la em quatro dias recomendo que carreguem em torno de 5 litros por cabeça. Lembre-se que a água representa 70 % da constituição do nosso organismo, e portanto levar pouco do precioso líquido é negar melhores condições de funcinamento a nossa própria máquina, alêm do que as condições topográficas a serem enfrentadas não se assemelham nem um pouco com um campo de golfe.

Os que forem iniciar a caminhada desde o bairro do Pinheirinho, levem pelo menos um litro d’água para a subida até a toca do lobo.

Em todos os dias de caminhada teremos trechos com capim elefante, constituído por touceiras que às vezes podem ser mais altas que uma pessoa, e cujas finas e longas folhas podem cortar as mãos daqueles que a eles venham a se agarrar com pouca firmeza. Tambêm serão encontrados as touceiras de capim navalha (folhas longas e limbos mais largos) cujos bordos das folhas de textura coriácea tambêm são cortantes. Dois amigos meus não hesitaram em usar luvas durante a segunda vez que lá estive, preservando suas mãos dos possíveis cortes.

Um pouco antes do final da subida ao pico do Capim Amarelo (2400 metros de altitude) tem início os trechos de trilha com as “pegajosas” taquaras. Por isso mesmo outra recomendação importante é que procurem montar suas mochilas o mais baixo possível, o que reduz o agarramento dos bambus. Devido ao fato da trilha ainda não estar realmente consolidada, dos bambus apresentarem um rápido crescimento nas estações chuvosas e tambêm de que muitos grupos que por lá passam não levam um bom facão para ajudar na manutenção da trilha, temos que eles sempre estão de alguma forma dificultando nossa passagem. Como já disse vá com sua carga o mais baixo possível, evite pendurar coisas fora da mochila, e esteja disposto a até mesmo engatinhar caso encontre algum trecho de bambus formando “túneis” com cerca de meio metro de altura.

Outro detalhe importante é que existem alguns platôs rochosos com uma grande quantidade de sedimentos, dificultando a identificação dos tótens. Estes com certeza são os trechos de maior dificuldade de navegação em condições de baixa visibilidade ocasionada por neblinas.

E por falar em neblina, ela é o que podemos chamar de um fator que pode tornar a caminhada bem mais difícil ou até mesmo impossível, conforme sua intensidade.

Evite tambêm ir para Serra Fina, ou qualquer outra montanha em estações mais chuvosas, pois o problema não são as chuvas em si, mas as descargas elétricas que podem trazer consigo e, nos campos de altitude nós somos “excelentes” pára-raios.

No terceiro dia de caminhada após descermos a Pedra da Mina na direção leste, teremos que fazer uma caminhada pelo leito de um riacho, que no inverno tem um volume de água bem menor facilitando nossa passagem. Foi no início deste riacho, em maio de 2000 que meu irmão e eu, encontramos algumas placas de gelo formadas durante a noite. É possível vencer este trecho com os pés secos, algo confortante, para isso iremos caminhar ora por dentro do rio, saltando de pedra em pedra, ora pelas margens, varando os cinturões de capim elefante. Antes de deixar o riacho não esqueça de abastecer o seu estoque de água, pois esta será a última da trilha.

Não se esqueça tambêm de levar bons agasalhos para o frio e um bom saco de dormir. No inverno a temperatura facilmente pode ficar abaixo de zero durante a noite.

O que existe no cume da Pedra da Mina?

No cume encontramos debaixo de uma pedra de mais ou menos um metro de altura, umas duas tampas de panela deixadas pelos primeiros excursionistas a chegar na Pedra da Mina, em 1955. Você poderá deixar tambêm o seu recado em um livro de assinaturas que esta guardado dentro de um recipiente de plástico.

O que ver do cume da Pedra da Mina?

Lá de cima pode-se avistar em 360 graus.

Destaca-se a oeste, o maciço Marins/Itaguaré; a nordeste, a uns 40 quilômetros, o pico do Papagaio, em Aiuruoca (MG); a leste, o Parque Nacional do Itatiaia, destacando a 19 quilometros o pico das Agulhas Negras, e ao sul, do outro lado do Vale do Paraíba, a serra do Mar, no trecho do Parque Nacional da Serra da Bocaina.

Em noites sem neblina é possível avistar as luzes de cidades paulistas, cariocas e mineiras.

Com quem ir?

Você pode contratar um guia, o que tornará sua aventura muito mais segura e agradável. Caso queiram eu posso guiar grupos com até 6 pessoas. Liguem para Jacareí (12 352-1738) ou para Lavras (35 3821-5412). Falar com o João Carlos.

Autor: João Carlos.
E-mail: [email protected]
Cidade/UF: Jacareí – SP

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Escrito por Mauricio Oliveira

Maurício Oliveira é social media expert, consultor e influenciador de turismo e empreendedor. CEO do portal Trilhas e Aventuras, também conta suas experiências de viagens pessoais no blog Viagens Possíveis. Especialista em Expedições na Rota das Emoções e Lençóis Maranhenses. Ama o que faz no seu trabalho e nas horas vagas também gosta de viajar. Siga no Instagram, curta no Facebook, assista no Youtube.

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